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ATUALIDADES | Fome e saúde mental

Equipe RND
Escrito por Equipe RND em 18 de setembro de 2023
ATUALIDADES | Fome e saúde mental

A partir da leitura e reflexão sobre os textos de apoio abaixo, escreva um texto dissertativo-argumentativo no qual você discorra sobre o seguinte tema: A relação entre a fome e a saúde mental dos brasileiros em situação de vulnerabilidade. Caso julgue necessário, busque leituras adicionais.

Não deixe de fazer o planejamento da sua redação.

TEXTOS DE APOIO

Texto 1

Uma pesquisa de agosto do Datafolha revela que um terço dos brasileiros relata ansiedade, problemas com sono e com a alimentação sempre ou frequentemente. Desses, o impacto é maior nas classes D e E, em que 37% declaram ter problemas com sono com grande frequência, ante 29% entre os brasileiros da classe C e 25% das classes A e B. 

Além disso, enquanto 21% da população já foi diagnosticada com transtorno de ansiedade ao longo da vida, o índice sobe para 27% entre mulheres, quase o dobro da prevalência entre homens (14%).

Nesse contexto, os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), que são serviços do SUS especializados no atendimento de pessoas em sofrimento psíquico e diagnosticadas com transtornos mentais, passaram a acumular exemplos do vínculo entre pobreza, insegurança alimentar e diferentes manifestações de sofrimento psíquico.

No Distrito Federal, o CAPS II de Taguatinga é representativo da situação da capital federal, que durante a pandemia se tornou a Unidade Federativa brasileira onde a pobreza mais aumentou. De 2019 a 2021, a população pobre da região passou de 12,9% para 20,8%, e a parcela em extrema pobreza foi de 3,2% para 7,3%, segundo um estudo do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Vargas (FGV). 

Voltado ao atendimento de pessoas “que se encontram em situações de crise ou em processos de reabilitação psicossocial”, como define o Ministério da Saúde, o CAPS II brasiliense passou a receber demandas por alimentos nos últimos anos.

“É um público que não tem só uma demanda de saúde mental stricto sensu, de transtornos mentais, por exemplo. É uma população que tem outras demandas relacionadas à saúde, mas que estão ligadas ao [contexto] social”, afirma Cláudia Sousa, psicóloga do serviço em Taguatinga.

A profissional relata que, principalmente a partir do início da pandemia, muitos usuários do serviço passaram a pedir cestas básicas aos funcionários do CAPS, onde recebia “diversos relatos de insegurança alimentar impactando a saúde mental em várias dimensões”.

“Sabe a história da criança que vai para a escola para comer?! Isso também é uma realidade nossa que precisamos admitir”, completa Cláudia sobre as refeições que são oferecidas no CAPS. “Acontece de as pessoas frequentarem porque elas também precisam se alimentar. Tem pessoas que percebemos que a crise [psíquica] tem a ver com a questão da falta de alimentação, e não que isso seja o motivo único da crise, mas é um agravante.” 

(…)

Cláudia acrescenta ainda que mesmo as medicações psiquiátricas, que são as alternativas mais facilmente acessadas pelos usuários do serviço, têm efeitos fora do indicado quando a pessoa não se alimenta direito. Segundo ela, não é raro que pessoas usem medicações prescritas para dormir a fim de “burlar a fome”, por exemplo.

Assim como no CAPS II de Taguatinga, profissionais de outro serviço público no DF testemunham os efeitos da insegurança alimentar na saúde mental da população. É o caso de Olga Jacobina, psicóloga do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) Guará II. 

Sobre os episódios de crises psíquicas que acompanhou entre usuários do CRAS, Olga reforça que os casos envolviam contextos mais complexos em torno da insegurança alimentar: “Tem os efeitos diretos da falta de substâncias e nutrientes, mas tem outro processo importante que é o que as pessoas precisam passar para conseguir alimentos, marcado pela humilhação e pela falta de estima social.”

Fonte: PEREIRA, Manuela; LOTH, Luara. Loucura como diagnóstico da fome? Como a insegurança alimentar afeta a saúde mental entre os mais vulneráveis no Brasil / o joio e o trigo

Texto 2

É necessário entender a fome como uma questão também de saúde mental. A fome em si é uma situação basilar que precede outras questões humanas. É preciso pensar sobre que indivíduo estamos falando: se suas necessidades básicas, como alimentação, higiene, segurança, moradia e sustento estão em alguma medida garantidas. A privação de qualquer um destes fatores já é um desencadeador de sofrimento mental. 

Fonte: FERREIRA, Julia; SILVA, João. Por que a fome deve ser entendida como questão de saúde mental? / CRP-PR

Texto 3

Eu ando tão nervosa que estou com medo de ficar louca.

Carolina Maria de Jesus, em momento de fome, em Quarto de Despejo: Diário de uma favelada

Hoje eu estou alegre. (…) Acho que é porque estes dias eu tenho tido o que comer.

Carolina Maria de Jesus, em Quarto de Despejo: Diário de uma favelada

Texto 4

O que é a insegurança alimentar?

A insegurança alimentar acontece quando as pessoas não têm acesso regular e permanente a alimentos em quantidade e qualidade suficiente para sua sobrevivência, como define a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).

Isso quer dizer que a pessoa em estado de insegurança alimentar passa por incertezas de quando, como e quanto irá comer em sua próxima refeição, colocando em risco sua nutrição, saúde e bem-estar. 

Tipos de insegurança alimentar

A FAO detalha ainda mais a situação e separa os níveis de insegurança alimentar em quatro categorias – moderada, grave, crônica e aguda. 

A insegurança alimentar moderada, por exemplo, acontece quando a pessoa tem sua capacidade de obter alimentos prejudicada devido a fatores como renda ou acesso a recursos. Os indivíduos que estão nesse estágio do problema de alimentação acabam obrigados, em determinadas épocas do ano, a reduzir a quantidade ou a qualidade dos alimentos que consomem. 

No estado grave de insegurança alimentar se enquadram as pessoas que não têm acesso à comida, podendo passar fome durante o dia e, nos casos mais extremos, passar dias sem comer. 

Já a crônica é a insegurança alimentar que persiste ao longo do tempo, ou seja, uma pessoa que vive por grandes períodos em que há incerteza em relação às suas refeições. Esse nível é comumente relacionado a causas estruturais da sociedade, como o alto preço dos alimentos. 

Por fim, a insegurança alimentar aguda é aquela que se estabelece em um nível no qual a falta de alimentos é suficiente para ameaçar a vida ou meios de subsistência de uma pessoa, independentemente da causa, contexto ou duração. Por exemplo, quando a pessoa sofre de desnutrição, com risco de óbito.

Diferença entre insegurança alimentar e fome

Como os dois conceitos são bastante próximos, por vezes eles acabam se confundindo. A insegurança alimentar considera não só a quantidade de alimentos a que a pessoa tem acesso, mas também a qualidade e quais as causas para essa incerteza no que está disponível para comer. 

Já a fome é definida pela FAO como um desconforto físico ou dor causada pelo consumo insuficiente de energia alimentar. Entretanto, quem passa fome por conta de causas sociais e estruturais, também se encontra em algum nível de insegurança alimentar. 

O termo “fome” também costuma ser usado como sinônimo de subalimentação crônica, ou seja, a condição persistente – que dura muito tempo – na qual o consumo alimentar habitual de um indivíduo é insuficiente para fornecer a quantidade de calorias necessárias para manter uma vida normal, ativa e saudável.

Fonte: KEYSSAR, Natalie. O que é insegurança alimentar e quais são suas causas / National Geographic

Texto 5

(…) uma dieta no estilo ocidental, caracterizada pela forte presença de alimentos doces e gordurosos, grãos refinados, itens fritos e processados, carne vermelha, laticínios com alto teor de gordura, além de baixa ingestão de frutas e vegetais, está associada a um maior risco de ansiedade.

Ou seja, os padrões alimentares dos indivíduos parecem contribuir para a saúde mental.

Nesse sentido, uma dieta com a combinação certa de vitaminas, minerais, óleos e gorduras saudáveis pode ajudar a melhorar as funções cerebrais, níveis de energia e memória, trazendo benefícios tanto para a saúde mental quanto física.

As vitaminas do complexo B e o triptofano, por exemplo, participam da formação de alguns neurotransmissores, sendo essenciais para a saúde da mente.

Os antioxidantes dos alimentos, por sua vez, ajudam a neutralizar os radicais livres formados pela alta atividade metabólica do nosso cérebro – essas moléculas são instáveis e associadas a vários problemas de ordem mental.

Já as fibras, contribuem para o bom funcionamento intestinal, e, dessa maneira, para a produção de neurotransmissores. Talvez você não saiba, mas muitos neurotransmissores têm origem em nosso intestino.

Não é à toa que diversos estudos vêm apontando que o eixo intestino-cérebro pode ter grande importância para a ansiedade e a depressão. Nessa condição, o uso de probióticos – bactérias capazes de melhorar a saúde intestinal – teria o poder de minimizar os sintomas psíquicos dessas doenças.

Sendo assim, podemos dizer que a alimentação tem um papel muito importante na manutenção da saúde mental.

Fonte: MORAES, Mariana. A relação entre alimentação e saúde mental / PUC-PR

Boa produção!
Um abraço,
Equipe Redação Nota Dez

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