Dica de Redação

Como elaborar uma proposta de intervenção que convença os examinadores

Ena Lélis
Escrito por Ena Lélis em 22 de janeiro de 2020
Como elaborar uma proposta de intervenção que convença os examinadores

Ao longo dos anos, o ENEM escolheu, para a redação, a tipologia dissertação-argumentativa. Isso quer dizer que o candidato deve não apenas defender seu ponto de vista (tese), mas também se utilizar de argumentos para enriquecê-lo, na busca de convencer o leitor (neste caso, a banca). Mas não só de tese e argumentos vive a redação do ENEM. Ela também precisa de um negócio chamado “proposta de intervenção”, confundido por muitos como “conclusão”. Mas e não é? Não necessariamente!

O seu texto deve ser dividido em 3 partes (eu disse ‘partes’, não ‘parágrafos’): introdução, desenvolvimento* e conclusão. A sua proposta de intervenção deve estar na conclusão. Lembra da matemática, do “contém e está contido”? A conclusão contém a proposta de intervenção. A proposta de intervenção está contida na conclusão. Ok?

* Já vi redações nota 1000 do ENEM com apenas 3 parágrafos, ou seja, 1 de introdução, 1 de desenvolvimento (isso mesmo) e 1 de conclusão. Não é a divisão ideal vista em bancas de vestibulares e concursos, mas há muitas comprovações de que o ENEM não se incomoda com essa estrutura de texto completo com apenas 3 parágrafos.

Detalhamento e viabilidade

Sua proposta de intervenção nada mais é do que uma proposição de meios de intervir de maneira efetiva nos problemas apresentados no desenvolvimento. Ou seja, pense: “dos problemas que eu apresentei no desenvolvimento, o que acho que funciona como solução efetiva e como isso deve ser executado?”. Não à toa, a Cartilha do Participante (MEC-INEP/2019) sugere o seguinte:

Não esqueça de analisar se a sua redação apresenta o tema solicitado pela prova, se os argumentos sustentam a tese escolhida, se as propostas de intervenção social são convincentes e se têm conexão com o início do texto.

Exemplo de conexão entre o início e o final do texto

A candidata B.P.D. inicia o texto com uma citação indireta de Thomas Hobbes – argumento de autoridade – que é retomada ao final, após as explicações da proposta de intervenção (a proposta é o trecho que está sublinhado). Veja:

Introdução >> Segundo Thomas Hobbes, é necessário estabelecer um contexto social em que o governo garanta a segurança do povo e iniba um convício caótico. No entanto, o alcoolismo no Brasil é um dos fatores que impede a harmonia no trânsito e oferece riscos à vida humana. […]

Conclusão >> Pode-se dizer, portanto, que a iniciativa do governo federal produz benefícios incontestáveis, mas que ainda não são plenamente aplicados. Para tanto, é preciso intensificar a divulgação de propagandas midiáticas que demonstrem as vantagens da nova lei, além de aumentar a fiscalização das vias públicas, por meio da atuação da polícia militar, principalmente em regiões de maior fluxo veicular. Tais medidas associadas ao incentivo ao uso de táxis com a redução de custos possibilitados por subsídios governamentais são importantes. Afinal, assim será possível ao menos garantir a harmonia defendida por Hobbes diante da ordem e do progresso estampados em nossa bandeira.

Elementos coesivos

Além do exemplo acima, abaixo trazemos mais dois trechos de redações nota 1000. Reparem não apenas o que já foi tocado até aqui (detalhamento, viabilidade, conexão entre as partes), mas também os elementos coesivos adequados ao que se pretende dizer.

Coincidentemente, os dois exemplos abaixo trazem a mesma conjunção conclusiva: “portanto”. Mas você deve saber que é possível valer-se ainda de outros tantos elementos coesivos que possuem a mesma intenção de concluir: assim / logo / por conseguinte / então / pois (após o verbo, como em: “Deve-se, pois, permitir…”).

Duas conclusões nota 1000

Conclusão 1 – Com o tema da “lei seca”, a candidata B.N.C. transfere sua proposta para uma sociedade mobilizada e para o governo, valorizando disciplinas como cidadania e segurança.

Portanto, a lei seca é importante para a redução do número de acidentes de trânsito. Porém, sua efetividade completa só ocorrerá com a mobilização da sociedade. Sendo assim, é preciso que o governo acrescente ao currículo escolar disciplinas como cidadania e segurança no tráfego, além de tornar mais rígidas as punições pelas transgressões e aumentar o número de postos de fiscalização. Ademais, deve-se fazer uma reforma no sistema de transportes públicos, aumentando o número destes nos horários noturnos e nas cidades periféricas. Dessa forma, será possível reduzir o número de mortes no trânsito e chegar a uma sociedade menos individualista.

Conclusão 2 – Ao abordar o “movimento imigratório”, a candidata Y.R.V. propõe que o governo crie uma “cartilha do imigrante”.

Torna-se evidente, portanto, que o país precisa administrar de forma mais consciente a expressiva chegada de imigrantes. Com esse objetivo, além das medidas anteriormente citadas, a criação da “cartilha do imigrante” ajudaria no estabelecimento desses indivíduos, uma vez que eles ficariam cientes de suas possibilidades, sendo papel do governo elaborá-la. Com os imigrantes incrementando não só a cultura como a economia, a reação social de transformação em país do futuro certamente será agilizada.

Não esqueça: antes de elaborar a sua proposta, procure responder às perguntas sugeridas acima pelo MEC/INEP:

  1. O que é possível apresentar como proposta de intervenção para o problema?
  2. Quem deve executá-la?
  3. Como viabilizar essa proposta?
  4. Qual efeito ela pode alcançar?
  5. Que outra informação pode ser acrescentada para detalhar a proposta?

Boa produção!

Um abraço,
Ena Lélis + Equipe Redação Nota Dez

Olá!

O que você achou deste conteúdo? Conte nos comentários.

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

One Reply to “Como elaborar uma proposta de intervenção que convença os examinadores”

Maria José Rabello Mendes

Bastante interessante. Ajuda muito.