Ao longo dos anos, o ENEM escolheu, para a redação, a tipologia dissertação-argumentativa. Isso quer dizer que o candidato deve não apenas defender seu ponto de vista (tese), mas também se utilizar de argumentos para enriquecê-lo, na busca de convencer o leitor (neste caso, a banca). Mas não só de tese e argumentos vive a redação do ENEM. Ela também precisa de um negócio chamado “proposta de intervenção”, confundido por muitos como “conclusão”. Mas e não é? Não necessariamente!
O seu texto deve ser dividido em 3 partes (eu disse ‘partes’, não ‘parágrafos’): introdução, desenvolvimento* e conclusão. A sua proposta de intervenção deve estar na conclusão. Lembra da matemática, do “contém e está contido”? A conclusão contém a proposta de intervenção. A proposta de intervenção está contida na conclusão. Ok?
* Já vi redações nota 1000 do ENEM com apenas 3 parágrafos, ou seja, 1 de introdução, 1 de desenvolvimento (isso mesmo) e 1 de conclusão. Não é a divisão ideal vista em bancas de vestibulares e concursos, mas há muitas comprovações de que o ENEM não se incomoda com essa estrutura de texto completo com apenas 3 parágrafos.
Detalhamento e viabilidade
Sua proposta de intervenção nada mais é do que uma proposição de meios de intervir de maneira efetiva nos problemas apresentados no desenvolvimento. Ou seja, pense: “dos problemas que eu apresentei no desenvolvimento, o que acho que funciona como solução efetiva e como isso deve ser executado?”. Não à toa, a Cartilha do Participante (MEC-INEP/2019) sugere o seguinte:
Não esqueça de analisar se a sua redação apresenta o tema solicitado pela prova, se os argumentos sustentam a tese escolhida, se as propostas de intervenção social são convincentes e se têm conexão com o início do texto.
Exemplo de conexão entre o início e o final do texto
A candidata B.P.D. inicia o texto com uma citação indireta de Thomas Hobbes – argumento de autoridade – que é retomada ao final, após as explicações da proposta de intervenção (a proposta é o trecho que está sublinhado). Veja:
Introdução >> Segundo Thomas Hobbes, é necessário estabelecer um contexto social em que o governo garanta a segurança do povo e iniba um convício caótico. No entanto, o alcoolismo no Brasil é um dos fatores que impede a harmonia no trânsito e oferece riscos à vida humana. […]
Conclusão >> Pode-se dizer, portanto, que a iniciativa do governo federal produz benefícios incontestáveis, mas que ainda não são plenamente aplicados. Para tanto, é preciso intensificar a divulgação de propagandas midiáticas que demonstrem as vantagens da nova lei, além de aumentar a fiscalização das vias públicas, por meio da atuação da polícia militar, principalmente em regiões de maior fluxo veicular. Tais medidas associadas ao incentivo ao uso de táxis com a redução de custos possibilitados por subsídios governamentais são importantes. Afinal, assim será possível ao menos garantir a harmonia defendida por Hobbes diante da ordem e do progresso estampados em nossa bandeira.
Elementos coesivos
Além do exemplo acima, abaixo trazemos mais dois trechos de redações nota 1000. Reparem não apenas o que já foi tocado até aqui (detalhamento, viabilidade, conexão entre as partes), mas também os elementos coesivos adequados ao que se pretende dizer.
Coincidentemente, os dois exemplos abaixo trazem a mesma conjunção conclusiva: “portanto”. Mas você deve saber que é possível valer-se ainda de outros tantos elementos coesivos que possuem a mesma intenção de concluir: assim / logo / por conseguinte / então / pois (após o verbo, como em: “Deve-se, pois, permitir…”).
Duas conclusões nota 1000
Conclusão 1 – Com o tema da “lei seca”, a candidata B.N.C. transfere sua proposta para uma sociedade mobilizada e para o governo, valorizando disciplinas como cidadania e segurança.
Portanto, a lei seca é importante para a redução do número de acidentes de trânsito. Porém, sua efetividade completa só ocorrerá com a mobilização da sociedade. Sendo assim, é preciso que o governo acrescente ao currículo escolar disciplinas como cidadania e segurança no tráfego, além de tornar mais rígidas as punições pelas transgressões e aumentar o número de postos de fiscalização. Ademais, deve-se fazer uma reforma no sistema de transportes públicos, aumentando o número destes nos horários noturnos e nas cidades periféricas. Dessa forma, será possível reduzir o número de mortes no trânsito e chegar a uma sociedade menos individualista.
Conclusão 2 – Ao abordar o “movimento imigratório”, a candidata Y.R.V. propõe que o governo crie uma “cartilha do imigrante”.
Torna-se evidente, portanto, que o país precisa administrar de forma mais consciente a expressiva chegada de imigrantes. Com esse objetivo, além das medidas anteriormente citadas, a criação da “cartilha do imigrante” ajudaria no estabelecimento desses indivíduos, uma vez que eles ficariam cientes de suas possibilidades, sendo papel do governo elaborá-la. Com os imigrantes incrementando não só a cultura como a economia, a reação social de transformação em país do futuro certamente será agilizada.
Não esqueça: antes de elaborar a sua proposta, procure responder às perguntas sugeridas acima pelo MEC/INEP:
- O que é possível apresentar como proposta de intervenção para o problema?
- Quem deve executá-la?
- Como viabilizar essa proposta?
- Qual efeito ela pode alcançar?
- Que outra informação pode ser acrescentada para detalhar a proposta?
Boa produção!
Um abraço,
Ena Lélis + Equipe Redação Nota Dez
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