Quem não conhece a famosa resposta engraçadinha sobre a função do apóstrofo?
Mas, afinal, qual é mesmo a função do apóstrofo?
Segundo o gramático Evanildo Bechara, o apóstrofo possui as seguintes funções:
- Indicar a supressão da vogal, já consagrada pelo uso, em certas palavras ligadas pela preposição de. Exemplo: copo-d’água (=planta, lanche);
- Indicar a supressão de uma letra ou letras em um verso, por exigência da metrificação. Exemplo: c’oroa, esp’rança, of’recer;
- Reproduzir certas pronúncias populares: ‘tá, ‘teve etc.
Há ainda dois tipos de subtração/contração em que se considerava (e, em alguns casos, ainda se considera) o uso do apóstrofe. O gramático Napoleão Mendes de Almeida traz o uso da sinalefa e da ectlipse:
- Sinalefa (= fusão): consiste na fusão entre duas palavras, mediante supressão da última vogal da primeira palavra. Exemplo: do (de + o) / minh’alma (minha + alma). Segundo este gramático, era largamente usado o apóstrofo para indicar a sinalefa. Hoje, a tendência é eliminá-lo, principalmente nos casos em que a fusão se opera entre preposições e artigos (do, da, no, na etc.) ou entre pronomes (estoutro = este + outro), casos estes em que seu emprego não mais se justifica.
- Ectlipse (= ato de esmagar; pronuncia-se “ect-lípse”): consiste na supressão do m final da preposição com diante de vocábulos começados por vogal: co’o ou c’o (com + o) / co’um (com + um). A ectlipse só é usada na conversação comum e na poesia.
Dia desses, um aluno me enviou a seguinte dúvida:
Dúvida de um aluno, enviada por e-mail
…no último texto que enviei, a senhora cortou um apóstrofo que coloquei na sigla UPP´s. Por que está incorreto?
Resposta do RND:
(…)
Na Língua Portuguesa, um dos motivos da utilização do apóstrofo é, por exemplo, na fusão de duas palavras, com a supressão da última vogal da primeira sílaba: “Eu li metade d’Os Lusíadas”. Neste caso, é corretamente aplicável quando se prefere dizer “d’Os” (tendo em vista que o nome da obra começa com vogal) e não “de Os”. E ainda há a preposição de.
Na Língua Inglesa, o apóstrofo é utilizado no sentido de posse. Por exemplo: Helder’s house (casa de Helder). Só que hoje, no Brasil, com a mania do estrangeirismo, muitas pessoas passaram a usar o apóstrofo aleatoriamente, sem perceber que o sentido não é o mesmo. Apenas há a semelhança de um “s” ao final do termo.
Quando eu retiro o apóstrofo de UPPs, quero te dizer que estou retirando um sentido de posse que não se aplica ao texto. Assim como não há nenhuma contração, como acontece em minh’alma ou d’Os Lusíadas. O que você pretende é PLURALIZAR: UnidadeS de Polícia Pacificadora. Entende? Você quer pluralizar as UNIDADES. Logo, sem apóstrofo (e com “s” minúsculo): UPPs. Outros exemplos: PMs, UTIs, CDs.
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Olá!
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